quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Cirurgia

Clara marcou a cirurgia para 5 de março de 1983, após conseguir uma brecha em sua intensa agenda de compromissos profissionais.[8] Antonio Vieira de Mello chefiaria a equipe cirúrgica.[7] A cantora pediu sigilo total do médico, a fim de evitar alardes na imprensa. A data escolhida para a cirurgia sucedia o carnaval (comemorado em 15 de fevereiro naquele ano), quando Clara desfilou pela última vez na escola de samba da Portela e no bloco carnavalesco Clube do Samba,[8] que ela ajudara a fundar em janeiro de 1979.[9] Cerca de quinze dias antes da cirurgia para a remoção de varizes, a cantora se submeteu a uma outra pequena intervenção na clínica oftalmológica do doutor Marcos Wajnberg para retirada de um calázio (aumento da glándula sebácea da pálpebra em decorrência de inflamação).[10] De acordo com Wajnberg, "nesse caso, a intervenção cirúrgica não foi estética, mas por necessidade. O calázio é prejudicial e tem de ser retirado".[11]

No dia marcado para a cirurgia, Clara se levantou cedo, tomou seu habitual banho matutino, e se arrumou para sair rumo à Clínica São Vicente, na Gávea Seu marido, o compositor Paulo César Pinheiro, se ofereceu para levá-la até a clínica, mas a cantora recusou. Iria dirigindo, acompanhada da amiga de infância Vilarinda Marçal de Faria (conhecida como Lalita), a quem Clara havia pedido que viesse de Paraopeba para ajudá-la nos dias seguintes à operação. De acordo com Paulo César, que só ficou sabendo da cirurgia no final de fevereiro, a esposa decidiu não tomar anestesia peridural porque tinha medo de ficar paralítica caso ocorresse algum erro médico.[11]

Clara chegou à clínica às 07:50 da manhã e foi direto para seu quarto.[12] Os funcionários da clínica reconheceram-na e começaram a comentar sobre sua presença na clínica, o que deixou a cantora visivelmente irritada. Quando o anestesista Américo Salgueiro Autran Filho chegou ao quarto, Clara lhe informou que havia optado pela anestesia geral, decisão que havia tomado desde que optara pela cirurgia. Os médicos tentaram fazê-la desistir da idéia, explicando-lhe as vantagens da peridural, mas Clara foi categórica em sua resposta: "Se for para tomar a outra eu vou embora". Eles acabaram acatando a exigência da cantora. Às 10:30, Clara se dirigiu para a sala de cirurgia. A cirurgia começou às 10:45.[12]

Após Américo aplicar a anestesia em Clara, Antonio começou a operá-la.[12] A cantora havia sido anestesiada à base de uma mistura de halotano, protóxito de azoto e oxigênio.[13] A operação ocorria normalmente. A perna direita já havia sido operada e a esquerda estava sendo suturada, quando Antonio percebeu que o sangue de Clara estava muito escuro. O médico se assustou e pediu que o anestesista aferisse a pressão arterial da cantora (à época com aparelho manual). A pressão estava em queda, o que significa que a cantora estava tendo uma parada cardíaca. Antonio mandou fechar a saída do anestésico e aumentar para 100% a entrada de oxigênio no tubo traqueal. A ressuscitação manual já começara a ser realizada, mas foi interrompida devido à fibrilação do coração. A cantora foi reanimada com um desfibrilador, mas não respondia voluntariamente aos estímulos, indicativo de que ela havia entrado em coma.[13]

Clara havia tido uma reação alérgica a algum dos componentes do anestésico, ou seja, uma anafilaxia, que provocou a dilatação generalizada de todos os capilares sanguíneos de seu corpo. O cérebro não suportou tamanha pressão e um enorme edema se formou, causando a morte cerebral da cantora. Àquela altura, os médicos ainda não sabiam precisar a extensão do problema. O tomógrafo da Clínica São Vicente estava quebrado e, naquela época, só havia outro em toda a cidade do Rio de Janeiro, na Santa Casa de Misericórdia. Às 3:40 da tarde, Clara foi encaminhada para o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) da clínica.

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