sexta-feira, 23 de setembro de 2011

matéria Fatos&Fatos

um revista de 08 de janeiro de 1966, chamada Fatos&Fatos. É uma matéria de quatro páginas na qual Elis comenta assuntos como sua carreira, sua música e seus planos para o futuro. Na verdade, é mais um depoimento do que uma matéria. As fotos também fazem parte da edição.


O que chama atenção é a cabeça que Elis tinha aos 20 anos. E mais. Com pouco tempo de carreira, ela já tinha uma consciência de sua carreira e do seu papel na música que poucos artistas, mesmo com anos de estrada, têm.

Elis termina a matéria dizendo “até a volta”…Até, Elis!

Esta é a primeira vez que tenho a chance de comunicar-me com quem eu gosto, sem ser através da música: vou tentar mostra-me numa reportagem. Muita coisa vou deixar escondida, que não é bom desnudar-me inteiramente, mas tentarei mostrar muito de mim, muito do que até agora estava escondido. Se alguém se der o trabalho de ler nas entrelinhas, vai ver muito mais.

(…)

Vou-me embora dia 6 de janeiro, para a Europa, refazer-me do trabalho imenso que tive em 1965, ano ótimo sob todos os aspectos, o melhor da minha vida. Pretendo ir a Portugal, França, Itália, Espanha, Egito, Grécia e , se o tempo e os dólares permitirem, até Israel. Na Grécia, por exemplo, vou entrar com uma fita métrica na mão e medir pedra por pedra do Paternon, as portas, tudo direitinho, só para saber se aquele catatau que me obrigaram a decorar no colégio é verdade…

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Nunca poderei esquecer o que me deram no Teatro Paramount. Nunca vou esquecer, por mais que eu viva, o que recebi no Teatro Record, durante os sete meses de O Fino da Bossa. Desde pequena, meu sonho era essa Minha Gente. Sempre sonhei viver nesse mundo, ter tudo o que tenho. Para isso eu deixei minha terra, minha escola, meus amigos, que eram muitos. Vim com medo, indecisa. Não sabia o que era certo esse mundo.(…) Decidi que alcançaria, seguiria em frente, custasse o que custasse, fossem quais fossem as conseqüências.

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Muita gente se pergunta que sou eu: leviana, alegre, extrovertida, realizada, triste ou só? Pouquíssimos são os que me conhecem. No fundo, Elis Regina é uma “menina-velha”, conseqüência única e exclusivamente da vida e do mundo em que vive. A pessoa vai se transformando a cada dia. Não me preocupo com a vida de ninguém, não me interesso se estão andando com a perna para cima ou para baixo, o que me importa nas pessoas não é o que elas fazem, mas o que elas dão de si.


Numa palavra: eu sou eu mesma.e é difícil descrever-me. Gosto de calor humano, preciso de afeto. Elis Regina Carvalho Costa tem vinte anos e é completamente diferente de Elis Regina, a cantora, mulher de quarenta anos bem vividos. Quem conhece uma, não conhece a outra, pois uma não vive em função da outra.

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Minha música sai natural e espontânea. Eu faço cara feia, sou exagerada nos gestos? E eu com isso? É um problema de quem o acha. Eu sinto as coisas assim e eu simplesmente recorro a isso tudo porque às vezes a palavra não é suficiente para demonstrar as pessoas tudo que se quer dizer, não tem força para isso. O gesto é meu, o repertório quem escolhe ou eu, as letras, as músicas e tudo mais também refletem muito de mim.Música para mim é a única razão de ser, minha vida gira toda m função dela.

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O público é um negócio tão bacana, espera algo da gente, com olhos de pidão, eu nada mais posso fazer além de procurar satisfazê-lo. Meu carinho é tão grande, que não posso definir. Sinto-o apenas. E só posso dizer: muito obrigada e até a volta em março. Prometo tudo de mim.

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