quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Repercussão

A partir do momento em que Clara foi encaminhada para o CTI, a principal preocupação dos médicos era informar Paulo César Pinheiro sobre o ocorrido. O compositor passou a acompanhar de perto o quadro médico da esposa, junto com a família dela, que saiu de Minas Gerais para acompanhar o estado de Clara. Paulo César decidiu não ver mais a esposa, pois queria que a última imagem que tivesse de Clara fosse dela saindo de casa na manhã do dia 5 de março. A pedido de Paulo César, que mantinha a esperança da situação ser revertida, o caso foi mantido sob sigilo, mas acabou vazando para a imprensa dois dias depois.[13] A rua onde o casal morava, a Engenheiro Alfredo Dutra, se transformou num verdadeiro quartel-general de repórteres, assim como a clínica.[14] A essa altura, já havia sido divulgado que Clara havia sofrido um choque anafilático devido a uma cirurgia, mas várias versões sobre o estado de saúde da cantora começaram a circular: inseminação artificial, aborto (hipóteses impossíveis devido à histerectomia realizada por Clara em 1979, que foi mantida sob sigilo), tentativa de suicídio, surra do marido. Também foi propagado que o choque anafilático fora provocado pela enorme quantidade de uísque ingerido pela cantora na noite anterior à cirurgia e que ela seria usuária de drogas.[14]

No ano anterior, ao presenciar de perto a enorme repercussão da morte de Elis Regina, Clara havia ficado aterrorizada ao ponto de pedir ao marido, ao voltar do velório da amiga, que ele não deixasse que transformassem a morte dela em "motivo para circo".[15] No entanto, Paulo César Pinheiro pouco pôde fazer para atender ao pedido da esposa. Dezenas de fãs e artistas aportaram na Clínica São Vicente, que seria palco de crises histéricas e orações. Rosemary, Elizeth Cardoso, Dori Caymmi, Grande Otelo, João Nogueira, Dona Zica, Mauro Duarte, Fafá de Belém,[16] Paulinho da Viola, Luiz Ayrão, Roberto Ribeiro, Alcione,[16] Elza Soares, Beth Carvalho, Chico Buarque e Marieta Severo e Baby Consuelo[16] estão entre os artistas que foram até à clínica.[14]

Baby Consuelo causou agitação ao tentar entrar no CTI com o curandeiro Thomaz Green Morton.

Baby Consuelo protagonizou um dos momentos mais tensos dos 28 dias em que Clara esteve em coma, ao tentar entrar no CTI com Thomaz Green Morton, que havia convencido vários artistas de que seus "poderes paranormais" curavam doenças graves. Entretanto, ela foi impedida por Maria Pereira Gonçalves, a irmã mais velha da cantora, que acompanhava-a dia e noite, ao lado de Branca, outra irmã. No período em que Clara ficou em coma, apareceram todos os tipos de produtos milagrosos e curandeiros.[14] Paulo César Pinheiro barraria a entrada da maioria deles, motivo pelo qual foi chamado de "perturbado mental" por algumas publicações.[17] Também era ameaçado pelos fãs da cantora por seus supostos casos extra-conjugais, boato este que ganhava força. Um dos poucos benzedeiros que ele deixou entrar no CTI foi Lourival de Freitas, o "bruxo das Laranjeiras", que havia feito Tom Jobim e Chico Buarque parado de beber através do tratamento com ervas oriundas da Amazônia. Outro a entrar no CTI foi um acupunturista chinês chamado "Mister Wu", que tentou reanimar a cantora através de uma técnica da acupuntura chamada moxabustão.[17]

Nenhuma das tentativas trouxeram resultado positivo. Clara não possuía atividade cerebral e os médicos sabiam que, a qualquer momento, suas funções vitais se encerrariam.[18] Dez dias após o início do coma foi descoberta a extensão do edema, quando Clara foi levada para uma tomografia na Santa Casa, o que foi feito de madrugada para que não houvesse comoção popular. Naquele momento, chegaram à conclusão de que nada poderia ser feito para evitar a morte iminente da cantora.[18] Diante do silêncio de Paulo César e dos boletins médicos pouco esclarecedores,[16][19] a imprensa começou a exigir que os médicos concedessem uma entrevista coletiva e que a sala de cirurgia fosse aberta para que fosse concluído se houve ou não falha nos equipamentos usados.[18] Assim foi feito na terceira semana de março, quando o chefe do serviço de anestesia guiou os membros da imprensa pela clínica.[19] Havia suspeitas de que o anestesista se ausentara da sala durante a cirurgia, de que houve erro médico no atendimento à cantora e de que teria ocorrido uma falha no equipamento que liberava oxigênio.[18] A revista Veja entrevistou uma funcionária do centro cirúrgico que teria dito que, de fato, faltou oxigênio durante a operação.[19]

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